28 de dezembro de 2008

"Teatro para Alguém"

Foto: Cacá Bernardes. Atores/Técnicos: Renata Jesion, Zemanuel Piñero e Marcelo Poveda.
Esse é o primeiro teatro virtual do Brasil, idealizado por Renata Jesion, onde o espectador é convidado a assistir às peças através do site: http://www.teatroparaalguem.com.br/.

Segundo Renata Jesion, a idéia surgiu quando ela resolveu transformar a sala de estar de sua casa em um palco de teatro, onde o espectador poderia assistir às peças através da Internet, sem sair de casa, sem filas, sem congestionamentos e gratuitamente.

A casa-teatro é dividida em cômodos onde podemos escolher a peça a ser assistida, ler informações sobre o projeto, deixar um recado e até mesmo partilhar das memórias dos artistas através de textos e fotos.

Na Grande Sala temos a “Miniemsérie” que apresenta “Corpo-Estranho” de Lourenço Mutarelli em 16 episódios. Todas as Quartas-feiras às 22 horas é apresentado um episódio que fica no ar por uma semana. O 1º episódio foi ao ar dia 03/12/08, mas é possível assistir aos primeiros episódios no Porão da casa.

Na Sala de E-Star temos a “Miniemcena” que apresenta quinzenalmente uma mini-peça ao vivo às Sextas-feiras a partir das 22 horas. Ela ainda é apresentada nos quinze dias após a primeira apresentação, mas não mais ao vivo, até entrar no ar uma nova peça. Depois a peça poderá ser vista no Porão da casa.

No Sótão temos o “Teatro” que mensalmente apresenta uma peça dividida em atos de 10 minutos. O 1º ato vai ao ar às Quintas-feiras a partir das 22 horas e os atos seguintes nos dias subseqüentes. Mas todos os atos poderão ser assistidos no Porão da casa. A peça em cartaz neste mês é “Deve Ser do Caralho o Carnaval em Bonifácio” de Mário Bortolotto com a Cia Auto-Mecânica de Teatro.

O bom que podemos reassistir às peças quantas vezes quisermos. O mau é que, por vezes, temos que esperar dias para assistir à peça inteira.

O projeto é muito interessante porque além de proporcionar uma maior comodidade ao público, pensa na convergência das mídias (palco, vídeo, Internet) compreendendo que é importante inovar e renovar a todo instante a arte. E audacioso, pois já ouço murmúrios de críticas contra o projeto, dizendo que assistir pela Internet não é a mesma coisa que ir ao teatro e o mais importante é o clima que uma sala de teatro proporciona ao espectador. De fato, não é a mesma coisa, mas quem disse que é? O “Teatro para Alguém” só é uma nova forma de apresentação de uma peça de teatro. E quem disse que devemos deixar de ir ao teatro? Eu aproveitarei as duas formas de apresentação, pois a arte vive de idéias variadas e incompletas.

Infelizmente, esse não é um teatro para todos, pois é necessário que o espectador tenha um computador e uma boa conexão de Internet, mas é um teatro para alguém que goste de teatro, comodidade e inovação.

27 de dezembro de 2008

“Queime depois de ler” de Joel e Ethan Coen

Mais uma vez os irmãos Coen mostram a sua visão sarcástica sobre a sociedade norte-americana, repetindo o que fizeram em “Arizona, nunca mais” (1987), “Fargo” (1996) e “Onde os fracos não têm vez” (2007), mas “Queime depois de ler” (2008) tem uma diferença, se passa no leste dos EUA e por isso as personagens não têm o sotaque carregado, texano, tão marcante nos outros filmes.

O filme nos mostra um analista da CIA, Osbourne Cox (John Malkovich), demitido, com um casamento em crise e decidido a escrever suas memórias. Uma funcionária de uma academia de ginástica, Linda Litzke (Frances McDormand), preocupada em fazer três ou quatro cirurgias plásticas e arrumar um namorado através de uma agência de relacionamento. Um professor da academia, Chad Feldheimer (Brad Pitt), amigo de Linda e que só ouvi música em seus fones de ouvido e masca chiclete. Um investigador federal, Harry Pfarrer (George Clooney), obcecado por mulheres e que sempre pratica corrida após transar com suas amantes. E uma médica, Katie Cox (Tilda Swinton), esposa de Osbourne Cox que não aceita a sua demissão e o trai com Harry.

As personagens se encontram quando um CD, com as memórias de Cox, cai nas mãos de Linda e Chad, através do faxineiro da academia que o encontrou caído no chão e eles resolvem chantagear o autor para trocar o CD por dinheiro, crendo que as informações nele contidas são ultra-secretas; vale ressaltar que a idéia é de Linda, só preocupada em conseguir dinheiro para suas cirurgias plásticas, pois Chad é um jovem que não pensa, só ouvi música e as idéias da amiga; e nos relacionamentos amorosos simultâneos que Harry tem com Katie Cox e com Linda Litzke.

Destaco três cenas: a primeira, quando Linda e Chad levam o CD à Embaixada da Rússia, pensando em obter algum benefício com ele, a segunda, onde Chad entra na casa de Cox para procurar mais informações confidenciais e vê Harry entrando na casa. E claro, o final que não poderia ser diferente, violento e sarcástico.

Nessa trama, percebemos uma CIA burocrática, onde eles não sabem de tudo, como nós pensamos; percebemos a busca incessante pela beleza, deixando de lado meios escrupulosos e suas possíveis conseqüências; e por fim, percebemos a paranóia norte-americana de ser vigiado e mesmo perseguido, sem estar de fato.

Destaco ainda as atuações de Frances McDormand (personagem pretensiosa e bem-humorada), John Malkovich (personagem sério e violento), Brad Pitt (personagem hilário e idiota) e George Clooney (personagem sedutor e paranóico).

Talvez esse filme não chegue ao nível de “Fargo”, mas com certeza também é uma grande obra dos irmãos Coen.

26 de dezembro de 2008

Migalhas fotografadas II


Visita fotográfica à Av. Paulista - São Paulo em 16/12/2008.

19 de dezembro de 2008

Tristes Migalhas

"Poema" por Cazuza

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
De um tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço, um consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos ou anos atrás

À memória de minha avó Maria!

14 de dezembro de 2008

"Razão de ser"

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
Preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e o morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem de ter por quê?

Por Paulo Leminski

“Amor à tarde” de Eric Rohmer

O amor muda após alguns anos de casamento? Um homem (ou mulher) pode amar mais de uma mulher (ou homem) ao mesmo tempo? E qual o limite entre traição e amor? Estas são somente algumas questões que podemos extrair do último filme de "Seis contos morais": "Amor à tarde" (1972) de Eric Rohmer.

Frédéric (Bernard Verley) e Hélène (Françoise Verley) formam um casal de classe média com um filho e outro para nascer, ele sócio de uma companhia de seguros e ela, estudante preparando sua tese. Quase não saem juntos, vivem suas vidas quase separadas uma da outra, por causa de seus trabalhos, mas quando estão juntos se amam como grandes amantes, gostam de estar juntos em casa, gostam de ler juntos, por exemplo. O filme foca mais a vida e pensamentos de Frédéric. Ele adora andar pelas ruas de Paris, adora admirar as parisienses que nunca viu antes e sonhar com cada uma delas, conquistando-as. Mas esses desejos de conquista não passam de pensamentos, pois ele mesmo afirma que ama sua esposa e não trairia a sua confiança; ele, além disso, demonstra todo carinho que tem pela esposa quando está com ela. Desejar outra mulher (ou homem) já é traição ou só é um prazer inocente (sem intenção de praticar tal desejo)?
Numa tarde, em seu escritório, Frédéric recebe uma ex-namorada de um velho amigo, Chloé (Zouzou), uma mulher que não quer se casar, tampouco amar. Será que conseguimos controlar tal sentimento? Essas visitas se tornam freqüentes todas as tardes. Mas de repente, ela some e ele percebe uma mistura de indignação e saudade dentro de si; ela retorna de uma viagem e Frédéric torna a se encontrar com Chloé. Estaria ele apaixonado por Chloé, estaria ele traindo a sua amada Hélène?

Ao falar desse filme, lembro-me de “O homem que amava as mulheres” (1977) de François Truffaut. O personagem principal é Bertrand Morane (Charles Denner) que amava todas as mulheres, ou melhor, as pernas delas; na primeira cena ele aparece morto rodeado por mulheres que foram suas amantes. É possível um homem amar todas as mulheres ao mesmo tempo? Vejo em Bertrand Morane, não um machista ou amante vulgar, mas um amante do sexo oposto. Ele valorizava a mulher, independente da sua idade, da sua profissão, do seu estado civil, da suas manias ou dos seus gostos. Para mim, o filme é uma grande homenagem a todas as mulheres sem exceção, pois mostra as diversas belezas que cada mulher tem.
Há uma única diferença entre Frèdéric e Bertrand: um realiza os seus desejos na imaginação e o outro as realiza na prática. Mas ambos buscam o mais belo na mulher, a sua essência feminina.

São nos pensamentos de Frédéric, em suas conversas com Chloé e finalmente na última conversa com sua esposa que permeiam as questões morais que o filme se propõe.

As “migalhas de amor” são as mais deliciosas e instigantes, mas também são amargas e penosas!

30 de novembro de 2008

Carlitos e seus pães

Uma das cenas marcantes na filmografia de Charles Chaplin, é a cena da dança dos pães em "Em busca do Ouro" (1925).



Palmas para os pães e para Chaplin!

29 de novembro de 2008

Migalhas no Bar

Um bêbado chega no bar e diz:

- O Seu Luiz?

A atendente pede para ele esperar.

Seu Luiz se aproxima do balcão.

- Vim trazer o cheque. - diz o bêbado.

- Tá!

- O Sr. pode fazer um recibo?

- Não precisa, já tá pago! - diz ironicamente o dono do bar.

- Não! É só um recibo pra eu levar pra casa...

- Qual é o seu nome?

- Cléber.

Enquanto Seu Luiz rascunha um recibo..

- Eu vou ali comprar uma cerveja e já volto!

Cléber volta com uma lata de cerveja aberta. E Seu Luiz entrega o recibo.

- Leva lá!

- Tá!

Perguntas de um trabalhador que lê

"Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilôna várias vezes destruída,
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos de triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triufaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os galeuses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões."


Por Bertolt Brecht

24 de novembro de 2008

Migalhas de chocolate

Esta é uma das minhas propagandas preferidas e inesquecíveis...



Por W/Brasil

23 de novembro de 2008

Buster Keaton: sem rir, nos faz rir

Buster Keaton é um dos grandes cineastas-comediantes do cinema. Com seus filmes mudos mostrava um personagem acrobata, carismático e que nunca ria. Ele recebeu o apelido, quando ainda era criança, de Buster (destruidor, demolidor) porque era um "trapalhão" e nunca se machucava nos tombos que levava quando trabalhava em um circo com seu pai. Seu nome verdadeiro é Joseph Francis Keaton, nasceu em 04/10/1895 e morreu em 01/02/1966, nos Estados Unidos.

Eu tive somente duas oportunidades para assistir Buster Keaton na telona, oportunidades que não dispensei. O primeiro filme foi "O homem das novidades" (Cameraman - 1928) e depois "A General" (The General - 1927).

"O homem das novidades" (dirigido por Edward Sedgwick) mostra a história de um jovem fotógrafo, Luke Shannon (Buster Keaton), que procura um emprego no Cinejornal da MGM, onde conhece a linda secretária Sally Richards (Marcelina Day), mas descobre que só há emprego para cinegrafista, então ele aceita esta empreitada para se aproximar da sua paixão, Sally. A partir desse momento, ele entrará em várias confusões seja com sua câmera buscando um grande "furo" de reportagem ou para se aproximar de Sally. Destaco duas cenas: a briga no bairro chinês, onde ele consegue filmá-la no meio de murros e pontapés e a briga dentro de um provador de roupas, que no meio de agarrões e roupas se tem a cena mais engraçada do filme. O filme é uma homenagem a todos os cinegrafistas da época que enfrentavam, muitas vezes, grandes desafios para filmá-las.

"A General", dirigido pelo próprio Buster Keaton junto com Clyde Bruckman, tem, além da magnífica atuação de Keaton, a sua direção; Keaton mostra, com a ajuda de Bruckman, uma grande eficiência na posição de câmera e enquadramento das cenas, dando uma maior vivacidade às suas histórias, muitas vezes cômicas. O filme mostra o amor do maquinista Johnny Gray (Buster Keaton), por sua locomotiva (a General) e por sua noiva Annabelle Lee (Marion Mack) durante a Guerra de Secessão. Johnny Gray tenta se alistar nas tropas sulistas, por causa da condição imposta por sua noiva para casar-se com ele, mas não consegue. Mesmo sem se alistar, participa da guerra, tentando recuperar a sua amada "General" roubada e também salvar a sua, também amada, Annabelle, presa pelos nortistas. Com amor, coragem e atrapalhadas, Johnny Gray enfrentará as tropas do Norte. Destaco a coragem e precisão (tanto na atuação como na direção) na cena que ele se desloca para frente da locomotiva e tira dois dormentes que estavam sobre os trilhos e também a sua impaciência com a inocência da sua noiva, proporcionando as melhores risadas do filme. "A General" é uma crítica à intolerância da guerra e suas consequências.

Muitos comparam Buster Keaton ao extraordinário Charles Chaplin; em minha opinião, sãos dois excelentes atores e diretores, cada um com suas particularidades; o primeiro era um humorista visual, deixando de lado o sentimentalismo, mas com uma visão de cinema, nos Estados Unidos, a frente do seu tempo (sobretudo na direção de seus filmes) e o segundo com um humor mais sentimental, mas sarcástico e crítico (pouco comum nos anos 20 e 30). Para fazer nossas considerações sobre essas duas grandes personalidades do cinema, temos a possibilidade de assisti-los atuando juntos em um mesmo filme: "Luzes da Ribalta" (Limelight - 1952) com direção de Charles Chaplin, além, claro, da grande lista de filmes que cada um atuou e dirigiu (eu não perderei as chances que surgirem para assisti-los!), mas isto deixo para outra refeição...

16 de novembro de 2008

Migalhas fotografadas


Visita fotográfica no Parque da Luz - São Paulo em 21/06/08.

12 de novembro de 2008

São Bernardo esmigalhada!

Caros batateiros! Eis nosso futuro vice-prefeito...



Ele também tem as suas migalhas para servir... Mas essas devem ser jogadas na lata de lixo não-reciclável!

11 de novembro de 2008

"A Longa Viagem de Volta para Casa" no CCSP


Recomendo essa peça que assisti há alguns meses. A peça de Eugene O'Neill é dirigida, nesta adaptação, por André Garolli com o Grupo Triptal de Teatro e se passa num bar no cais de Londres, onde amigos festejam a despedida de um deles que decide abandonar a vida de marujo e voltar para casa. Ela está em cartaz no CCSP até o dia 18/11, nas Ter, Qua e Qui às 21h. Preço: R$ 15,00. Mais informações: http://www.centrocultural.sp.gov.br/programacao_teatro.asp

10 de novembro de 2008

"Lesados" em São Paulo

Essa peça está na programação da "I Mostra Paulista de Dramaturgia Nordestina" que se realiza no CCSP e no CCBB. Essa peça de Rafael Martins com o Grupo Bagaceira de Teatro (Fortaleza - CE) nos mostra, na primeira parte, quatro personagens que se movem sincronizados por um barulho repetitivo e ensurdecedor e depois através de questionamentos e muitos silêncios procuram entender o que, para que e por que são? E quais são as respostas? Não sei... Pois também sou um lesado!

Assiti a essa peça no Domingo no CCSP e vi parte da rica arte nordestina, especialmente do teatro nordestino. E ela ainda estará em cartaz no CCBB nos próximos dias 13, 14, 15 e 16/11 no CCBB (Qui a Sab às 19:30h e Dom às 18h). Entrada franca.


9 de novembro de 2008

A Trilogia da Guerra de Roberto Rossellini

Tive a oportunidade rara de assistir a esta trilogia na tela grande em um pequeno período e por isso compartilho algumas impressões (migalhas) destes três filmes de Rossellini.

O primeiro filme é "Roma, Cidade Aberta" de 1945, dado por muitos como o marco do Neo-Realismo Italiano (que ainda influencia muitos cineastas no mundo todo), que mostra a cidade de Roma de 1944 sob muitos escombros e dominada pelos nazistas e a ação do Grupo Resistência contra a ocupação nazista com o apoio de um sacerdote. É interessante notar a presença das crianças e suas atitudes diante desta ocupação, indicando que serão os futuros cidadãos que deverão continuar a lutar pela liberdade política, cultural e econômica na Itália. Vale ressaltar a célebre cena do assassinato de Pina (Anna Magnani) pelos nazistas ao correr atrás do caminhão, onde seu noivo Francesco (Francesco Grandjacquet) era levado preso e o choro de seu filho sobre o corpo da mãe.

O segundo filme é "Paisà" de 1946, composto por seis episódios focados na ocupação norte-americana desde o sul até o norte da Itália. Gostaria de ressaltar dois episódios. O primeiro episódio, onde um soldado norte-americano e uma italiana não se entendem por causa do idioma e o segundo episódio, em que um soldado norte-americano negro e bêbado conversa com um garoto italiano astuto que lhe rouba os sapatos. Ambos podem ser entendidos como metáforas do relacionamento entre Itália e Estados Unidos. A ocupação norte-americana na Itália, no fim da Segunda Guerra Mundial, foi permeada por conflitos e disputas entre os governos e entre as sociedades, representadas, nesse filme, pelo exército norte-americano e pelos civis italianos (mulher e garoto). Outro episódio interessante é o terceiro, que mostra o encontro de um soldado norte-americano com uma mulher italiana, único episódio com uma seqüência não-linear do filme.

O terceiro filme, "Alemanha, Ano Zero" de 1947, mostra uma Berlim, pós-guerra, destruída e enterrando os seus mortos, seus habitantes se amontoando nas casas que sobraram, fazendo filas para conseguir alimentos ou negociando produtos no mercado negro. A história é centrada no filho de um pai doente, uma irmã que espera o marido da guerra e que freqüenta boates à noite e um irmão que pertencia a SS e não se apresentou ao exército norte-americano temendo ser preso. Uma cena muito interessante foi a conversa entre dois alemães, onde um disse: "Antes, éramos chamados de nacionais-socialistas e agora somos chamados de nazistas", uma questão surge: somos ou não somos pré-conceituosos ao abordar a Segunda Guerra Mundial ou o Holocausto?... Outra cena é do pequeno Edmund Koeler (Edmund Moeschke) andando pelas ruas de Berlim, sozinho e sem rumo, simbolizando um futuro alemão ainda incerto.

Essa trilogia representa uma análise sobre o fim e o pós Segunda Guerra Mundial, na visão de quem viveu nesse período e fez questão de conservar o realismo do espaço e tempo. Algo impossível quando se filma, pois tudo pode ser mudado de acordo com a posição da câmera, a trilha sonora ou as personagens que compõe a cena. Porém, esta trilogia não pode ser esquecida pelos amantes de cinema no meio de tantos filmes atuais, sobretudo norte-americanos, sobre a Segunda Guerra Mundial.

Migalhas?!

Este weblog é a mesa onde as minhas migalhas serão espalhadas e assim poderão ser degustadas ou desprezadas, aceitas ou rejeitadas por cada leitor. Vejo as minhas idéias, opiniões e críticas como migalhas das minhas experiências de vida, como resultado dos diálogos, leituras, contemplações e reflexões que faço sobre o que está e o que acontece ao meu redor e suas influências e interferências no meu dia-a-dia.

Migalhas não são só restos ou sobras de algo comestível sem importância ou desnecessárias, elas também podem ser aproveitadas e até mesmo saboreadas. Quem desperdiçaria as migalhas de um crocante pão de nozes ou de um delicioso bolo de chocolate? Mas nem todas as migalhas são saborosas; algumas são secas, ásperas e insípidas, que descem como cacos de vidro pela garganta e não são facilmente digeridas.

Assim são as minhas migalhas. Ora deliciosas, ora desagradáveis. E você, leitor, pode se servir delas e apreciá-las, jogá-las no lixo ou mesmo cuspí-las.

E elas estão à mesa, é só se servir...