14 de dezembro de 2008

“Amor à tarde” de Eric Rohmer

O amor muda após alguns anos de casamento? Um homem (ou mulher) pode amar mais de uma mulher (ou homem) ao mesmo tempo? E qual o limite entre traição e amor? Estas são somente algumas questões que podemos extrair do último filme de "Seis contos morais": "Amor à tarde" (1972) de Eric Rohmer.

Frédéric (Bernard Verley) e Hélène (Françoise Verley) formam um casal de classe média com um filho e outro para nascer, ele sócio de uma companhia de seguros e ela, estudante preparando sua tese. Quase não saem juntos, vivem suas vidas quase separadas uma da outra, por causa de seus trabalhos, mas quando estão juntos se amam como grandes amantes, gostam de estar juntos em casa, gostam de ler juntos, por exemplo. O filme foca mais a vida e pensamentos de Frédéric. Ele adora andar pelas ruas de Paris, adora admirar as parisienses que nunca viu antes e sonhar com cada uma delas, conquistando-as. Mas esses desejos de conquista não passam de pensamentos, pois ele mesmo afirma que ama sua esposa e não trairia a sua confiança; ele, além disso, demonstra todo carinho que tem pela esposa quando está com ela. Desejar outra mulher (ou homem) já é traição ou só é um prazer inocente (sem intenção de praticar tal desejo)?
Numa tarde, em seu escritório, Frédéric recebe uma ex-namorada de um velho amigo, Chloé (Zouzou), uma mulher que não quer se casar, tampouco amar. Será que conseguimos controlar tal sentimento? Essas visitas se tornam freqüentes todas as tardes. Mas de repente, ela some e ele percebe uma mistura de indignação e saudade dentro de si; ela retorna de uma viagem e Frédéric torna a se encontrar com Chloé. Estaria ele apaixonado por Chloé, estaria ele traindo a sua amada Hélène?

Ao falar desse filme, lembro-me de “O homem que amava as mulheres” (1977) de François Truffaut. O personagem principal é Bertrand Morane (Charles Denner) que amava todas as mulheres, ou melhor, as pernas delas; na primeira cena ele aparece morto rodeado por mulheres que foram suas amantes. É possível um homem amar todas as mulheres ao mesmo tempo? Vejo em Bertrand Morane, não um machista ou amante vulgar, mas um amante do sexo oposto. Ele valorizava a mulher, independente da sua idade, da sua profissão, do seu estado civil, da suas manias ou dos seus gostos. Para mim, o filme é uma grande homenagem a todas as mulheres sem exceção, pois mostra as diversas belezas que cada mulher tem.
Há uma única diferença entre Frèdéric e Bertrand: um realiza os seus desejos na imaginação e o outro as realiza na prática. Mas ambos buscam o mais belo na mulher, a sua essência feminina.

São nos pensamentos de Frédéric, em suas conversas com Chloé e finalmente na última conversa com sua esposa que permeiam as questões morais que o filme se propõe.

As “migalhas de amor” são as mais deliciosas e instigantes, mas também são amargas e penosas!

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