9 de novembro de 2008

A Trilogia da Guerra de Roberto Rossellini

Tive a oportunidade rara de assistir a esta trilogia na tela grande em um pequeno período e por isso compartilho algumas impressões (migalhas) destes três filmes de Rossellini.

O primeiro filme é "Roma, Cidade Aberta" de 1945, dado por muitos como o marco do Neo-Realismo Italiano (que ainda influencia muitos cineastas no mundo todo), que mostra a cidade de Roma de 1944 sob muitos escombros e dominada pelos nazistas e a ação do Grupo Resistência contra a ocupação nazista com o apoio de um sacerdote. É interessante notar a presença das crianças e suas atitudes diante desta ocupação, indicando que serão os futuros cidadãos que deverão continuar a lutar pela liberdade política, cultural e econômica na Itália. Vale ressaltar a célebre cena do assassinato de Pina (Anna Magnani) pelos nazistas ao correr atrás do caminhão, onde seu noivo Francesco (Francesco Grandjacquet) era levado preso e o choro de seu filho sobre o corpo da mãe.

O segundo filme é "Paisà" de 1946, composto por seis episódios focados na ocupação norte-americana desde o sul até o norte da Itália. Gostaria de ressaltar dois episódios. O primeiro episódio, onde um soldado norte-americano e uma italiana não se entendem por causa do idioma e o segundo episódio, em que um soldado norte-americano negro e bêbado conversa com um garoto italiano astuto que lhe rouba os sapatos. Ambos podem ser entendidos como metáforas do relacionamento entre Itália e Estados Unidos. A ocupação norte-americana na Itália, no fim da Segunda Guerra Mundial, foi permeada por conflitos e disputas entre os governos e entre as sociedades, representadas, nesse filme, pelo exército norte-americano e pelos civis italianos (mulher e garoto). Outro episódio interessante é o terceiro, que mostra o encontro de um soldado norte-americano com uma mulher italiana, único episódio com uma seqüência não-linear do filme.

O terceiro filme, "Alemanha, Ano Zero" de 1947, mostra uma Berlim, pós-guerra, destruída e enterrando os seus mortos, seus habitantes se amontoando nas casas que sobraram, fazendo filas para conseguir alimentos ou negociando produtos no mercado negro. A história é centrada no filho de um pai doente, uma irmã que espera o marido da guerra e que freqüenta boates à noite e um irmão que pertencia a SS e não se apresentou ao exército norte-americano temendo ser preso. Uma cena muito interessante foi a conversa entre dois alemães, onde um disse: "Antes, éramos chamados de nacionais-socialistas e agora somos chamados de nazistas", uma questão surge: somos ou não somos pré-conceituosos ao abordar a Segunda Guerra Mundial ou o Holocausto?... Outra cena é do pequeno Edmund Koeler (Edmund Moeschke) andando pelas ruas de Berlim, sozinho e sem rumo, simbolizando um futuro alemão ainda incerto.

Essa trilogia representa uma análise sobre o fim e o pós Segunda Guerra Mundial, na visão de quem viveu nesse período e fez questão de conservar o realismo do espaço e tempo. Algo impossível quando se filma, pois tudo pode ser mudado de acordo com a posição da câmera, a trilha sonora ou as personagens que compõe a cena. Porém, esta trilogia não pode ser esquecida pelos amantes de cinema no meio de tantos filmes atuais, sobretudo norte-americanos, sobre a Segunda Guerra Mundial.

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