Sabe as conversas em locais públicos que ouvimos “sem querer”, mas quando ouvimos uma história interessante, paramos para ouvi-la? Quase sempre, só ouvimos o início ou o meio ou o fim e que o restante da história fica por conta de nossa imaginação. Pois é, partilho uma conversa entre um menino e seu pai no vestiário de uma escola de natação.
Enquanto o pai ajudava seu filho a se enxugar e a se trocar após o banho, o pai disse ao menino: “Você precisa decidir, às vezes você diz que só tem sete anos e outras vezes, que já tem sete anos. Fala, dependendo da situação.” O menino, então se defendeu: “Mas a única coisa que eu quero é um celular”. E o pai, então, retrucou: “Então, você não vai mais me pedir para comprar figurinhas?” O filho, rapidamente, respondeu: “Mas eu só quero os do ‘xxx’ (não consegui identificar a coleção, provavelmente uma dessas de mangás cromados)”. O pai, com sorriso pequeno nos lábios, disse: “Ah, tá! Então, quando você tiver seu dinheiro, você compra.” E continuou: “E vamos logo que temos que passar em São Bernardo para pegar o documento do carro.” O menino, então, exclamou: “Mas nós já estamos em São Bernardo!”. E o pai: “Mas, perto da casa da tia Teresa.” E terminando de me arrumar, fui embora.
Saí da academia, pensando e me perguntando: quando uma criança pode ser considerada autônoma? Tem uma idade precisa para uma criança começar tomar as suas próprias decisões? Até quando uma criança deve ficar sob a sombra dos pais? Mais especificamente, a partir de qual idade uma criança deve portar um celular?
Certamente, o menino deve ter amigos da mesma idade que já tenham um celular, ou melhor, mp3, rádio, câmera fotográfica, Bluetooth e telefone num só aparelho - aliás, ele deve conhecer as funções do celular do seu pai melhor do que ele. E para se equiparar, tecnologicamente, com seus amigos, ele tenta persuadir, intencionalmente ou não, o seu pai a comprar um para ele. Ou seja, esse não deve ser um caso isolado em nossa sociedade contemporânea.
Por fim, cheguei a uma de várias possíveis conclusões: que ser pai ou mãe hoje em dia é muito mais difícil do que 20-30 anos atrás.